Ele estava sentado numa poltrona
confortável ao lado da lareira, com sua garrafa de vinho de sua melhor safra.
Em seu colo repousava soberano e
magnífico, seu sabre prateado, banhado de sangue.
Suas vestes caras estavam manchadas
de um vermelho escarlate, cor de morte.
Seu rosto sem expressão dava medo a
quem olhasse.
Olhos vazios
e profundos, feito um poço sem fundo.
Transtornado e perdido no
esquecimento, bebia seu vinho e acariciava delicadamente sua espada.
O silencio na sala era absoluto.
Ao seu lado, na mesa de canto,
estava o colar que ganhara de sua amada Lídia,
nome que não volto a pronunciar nesse texto.
Era um colar feito de ouro, com um pingente
em forma de coração na qual estava preso um pequeno rubi.
Ela havia o presenteado com este colar
no dia em que se casaram, dizendo palavras de amor enquanto colocava o colar em
seu pescoço.
Ele nem se quer ousava tocar no
colar, agora tinha medo de que o manchasse com ódio.
Ele olhava através da janela,
observava a lua cheia brilhando como uma pérola no céu negro e sem nuvens.
Pensava coisas perturbadas, coisas
hediondas, que não ouso descrever aqui.
Ele julgava e praguejava sua vida,
praguejava a si.
Aos seus pés estava ela, nua,
jogada numa poça do seu próprio sangue, mas ainda bela.
Segurava uma fita branca em sua
mão, que usava para amarrar os seus longos cabelos negros.
Ele adorava seus cabelos, sempre
que podia, penteava e cheirava seus fios durante a noite.
Passaram-se 12 anos desde que se
casaram.
Não tinham filhos.
Ele era ferreiro.
Ela cuidava da casa e do seu jardim
na qual se orgulhava.
As rosas eram suas preferidas.
Próximo a ela, encostado na parede
estava o corpo de um jovem soldado.
Seu amante.
Era forte, de olhos azuis, com o
rosto delicado agora sujo com seu sangue.
Ele olhava o soldado com raiva.
Ainda sem esboçar expressão alguma.
Permanecendo vazio e sem vida.
Tomou seu ultimo gole de vinho.
E uma lagrima escorreu pelo seu
rosto.
Seria a ultima gota de felicidade que tinha.
Não tinha por que viver.
O silencio da sala foi quebrado
repentinamente com um estouro.
A porta da sala veio abaixo e dela
entrou outros seis soldados.
Ele não lutou.
Jogaram-no numa cela no calabouço
do castelo.
Acorrentado e ferido.
Mas ainda vazio.
Não sentia dor ou arrependimento.
Ao meio dia do dia seguinte, foi
levado até a forca.
Caminhou de cabeça erguida
encarando seu carrasco.
Não teve julgamento.
Ele previa isso, assim como previu
ser capturado.
O povo gritava e praguejava.
Animais.
Eles não reconhecem a dor do homem.
A corda presa em seu pescoço era
pesada, desconfortável.
Ele não tinha medo da morte.
Só queria a paz.
Queria por um ponto final em sua
história.
Sem precisar viver na dor e na
solidão.
Em um breve momento lembrou-se de
sua mulher, na época em que existia amor.
Lembrava daquela jovem de cabelos
negros a quem se apaixonou anos atrás.
Que amou até agora.
De repente ele caiu.
A corda apertava seu pescoço,
instintivamente ele se debatia pela sua vida.
O ar de seus pulmões acabava.
Ele chorou.
Mas ainda não se arrependia do que
fez.
Agora estava em paz.
Dann- 23/09/2012
2 comentários:
Gostei da maneira como você escreve.
Muito obrigado moça. :)
Postar um comentário