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sábado, 6 de setembro de 2014

Vazio.

Ele estava sentado numa poltrona confortável ao lado da lareira, com sua garrafa de vinho de sua melhor safra.
Em seu colo repousava soberano e magnífico, seu sabre prateado, banhado de sangue.
Suas vestes caras estavam manchadas de um vermelho escarlate, cor de morte.
Seu rosto sem expressão dava medo a quem olhasse.
Olhos vazios e profundos, feito um poço sem fundo.

Transtornado e perdido no esquecimento, bebia seu vinho e acariciava delicadamente sua espada.
O silencio na sala era absoluto.
Ao seu lado, na mesa de canto, estava o colar que ganhara de sua amada Lídia, nome que não volto a pronunciar nesse texto.
Era um colar feito de ouro, com um pingente em forma de coração na qual estava preso um pequeno rubi.

Ela havia o presenteado com este colar no dia em que se casaram, dizendo palavras de amor enquanto colocava o colar em seu pescoço.
Ele nem se quer ousava tocar no colar, agora tinha medo de que o manchasse com ódio.

Ele olhava através da janela, observava a lua cheia brilhando como uma pérola no céu negro e sem nuvens.
Pensava coisas perturbadas, coisas hediondas, que não ouso descrever aqui.
Ele julgava e praguejava sua vida, praguejava a si.

Aos seus pés estava ela, nua, jogada numa poça do seu próprio sangue, mas ainda bela.
Segurava uma fita branca em sua mão, que usava para amarrar os seus longos cabelos negros.
Ele adorava seus cabelos, sempre que podia, penteava e cheirava seus fios durante a noite.

Passaram-se 12 anos desde que se casaram.
Não tinham filhos.
Ele era ferreiro.
Ela cuidava da casa e do seu jardim na qual se orgulhava.
As rosas eram suas preferidas.

Próximo a ela, encostado na parede estava o corpo de um jovem soldado.
Seu amante.
Era forte, de olhos azuis, com o rosto delicado agora sujo com seu sangue.

Ele olhava o soldado com raiva.
Ainda sem esboçar expressão alguma.
Permanecendo vazio e sem vida.

Tomou seu ultimo gole de vinho.
E uma lagrima escorreu pelo seu rosto.
Seria a ultima gota de felicidade que tinha.
Não tinha por que viver.

O silencio da sala foi quebrado repentinamente com um estouro.
A porta da sala veio abaixo e dela entrou outros seis soldados.
Ele não lutou.
Jogaram-no numa cela no calabouço do castelo.
Acorrentado e ferido.
Mas ainda vazio.
Não sentia dor ou arrependimento.

Ao meio dia do dia seguinte, foi levado até a forca.
Caminhou de cabeça erguida encarando seu carrasco.
Não teve julgamento.
Ele previa isso, assim como previu ser capturado.
O povo gritava e praguejava.
Animais.
Eles não reconhecem a dor do homem.

A corda presa em seu pescoço era pesada, desconfortável.
Ele não tinha medo da morte.
Só queria a paz.
Queria por um ponto final em sua história.
Sem precisar viver na dor e na solidão.

Em um breve momento lembrou-se de sua mulher, na época em que existia amor.
Lembrava daquela jovem de cabelos negros a quem se apaixonou anos atrás.
Que amou até agora.

De repente ele caiu.
A corda apertava seu pescoço, instintivamente ele se debatia pela sua vida.
O ar de seus pulmões acabava.
Ele chorou.
Mas ainda não se arrependia do que fez.
Agora estava em paz.




Dann- 23/09/2012


2 comentários:

Carol disse...

Gostei da maneira como você escreve.

Dan disse...

Muito obrigado moça. :)

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